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Salomé Pinto
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sexta-feira, 24 de março de 2017

Reforma florestal vai limitar área de eucalipto

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Confederação de Agricultores contesta mas para o especialista em florestas António Gonçalves a medida é crucial.

Limitar a área do eucalipto, avançar com o cadastro das terras e reforçar as equipas de sapadores florestais são algumas das medidas da reforma florestal aprovada no Conselho de Ministros extraordinário de 21 de março. Até 2020, o Governo de António Costa tem 550 milhões€ para gastar no setor, de acordo com o Programa de Desenvolvimento Rural do Continente para 2014-2020. Parte destas verbas traduzem-se em “apoios públicos a proprietários florestais que poderão beneficiar de subsídios até 90% dos custos das operações nos terrenos”, revela o Ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos. Mas não só. O Executivo garante ainda que vai formar 20 novas equipas de sapadores florestais e reequipar outras 44. 
A reforma florestal prevê ainda a criação de um cadastro simplificado das terras “que permitirá no horizonte de dois anos e meio identificar a propriedade no país que ainda não possui cadastro”. O ministro da agricultura explica que este sistema vai “identificar o património sem dono conhecido que será alocado a um banco de terras e, que por sua vez, o disponibilizará para exploração através de arrendamento a cooperativas de produtores florestais e a outras entidades”. 
O pacote legislativo aprovado pelo Governo socialista prevê ainda a transferência de competências de fiscalização e autorização de plantações para os municípios, caso assim o desejem. Inscrita na reforma florestal está também a limitação do eucaliptal que, neste momento, representa a maior fatia da floresta portuguesa: 26% de 3,15 milhões de hectares, ou seja, mais de 780 mil hectares de eucalipto, segundo o Programa de Desenvolvimento Rural do Continente para 2014-2020.

Aumento do eucaliptal pode "transformar o país num palheiro a arder"

Alterações vistas com bons olhos pelo especialista em florestas António Bento Gonçalves: “Há várias décadas que se reclamava uma reforma profunda como esta”. O investigador do Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território da Universidade do Minho, espera que a partir de agora “seja possível minorar os problemas da floresta”. E explicita: “A limitação da área do eucalipto era crucial, porque a anterior legislação (do Governo de Passos Coelho) que liberalizou bastante o plantio do eucalipto levou a uma baixa de preços ao pequeno produtor”. António Gonçalves tem consciência que “ as grandes indústrias, como a da pasta de papel, beneficiaram com essa política e que, de algum modo, é importante para a economia nacional, até porque é uma espécie de rentabilidade rápida ao contrário dos carvalhos, castanheiros e pinheiros”. Mas ressalva que “a médio e longo prazo iria desertificar boa parte do terreno e transformar o país num palheiro a arder, já que o eucalipto é um ótimo combustível para os incêndios”. O professor doutorado em Geografia Física e Estudos Ambientais admite mesmo que se o país continuasse a aumentar a área desta espécie, “poderia chegar a ter a maior mancha de eucalipto de toda a Europa”.

Medidas "ideológicas" e "eleitoralistas"

Mas João Machado, presidente da Confederação de Agricultores de Portugal, contesta esta limitação da área do eucalipto, porque “é uma produção que tem mercado em Portugal, que equilibra a balança e ajuda a exportar”. E acrescenta: “Estamos preocupados que seja proibida por questões ideológicas. Globalmente, a reforma é negativa para o país”. O representante da confederação dos agricultores rejeita ainda a transferência de competências para as autarquias e considera que esta é uma “decisão eleitoralista porque aproximam-se as eleições autárquicas”. 
Já António Gonçalves considera que “é mais sensato planear a nível regional e local e que a floresta vai ganhar com isso”.

Floresta em números

A floresta ocupa 3,15 milhões de hectares. As espécies mais representativas são o eucalipto (26%), sobreiro (23%) e pinheiro-bravo (23%), segundo o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Regional. A azinheira tem uma área de 11% e o pinheiro-manso de 6%.
A floresta portuguesa é maioritariamente detida por proprietários privados (cerca de 92%, sendo 6% gerida por empresas industriais). O Estado detém cerca de 2% da floresta e as autarquias e comunidades locais os 6% remanescentes.

Reportagem transmitada no Porto Canal.

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